" Naquele que é o primeiro 4 de Março posterior à minha tomada de posse, o Presidente da República aqui está para vos dizer, em nome de todas e de todos os portugueses, da nossa homenagem, do nosso respeito, da nossa gratidão, evidenciando a nossa homenagem aos que partiram, mas também, aos que souberam ficar e honrar os que partiram", afirmou Marcelo Rebelo de Sousa na sua visita a Castelo de Paiva, realizada no passado Sábado, no âmbito da cerimónia religiosa evocativa do 16º. Aniversário da tragédia da Ponte Hintze Ribeiro, que vitimou 59 pessoas desta região.
Discursando em jeito de homenagem à memória dos que partiram e aos familiares das vítimas, no monumento Anjo de Portugal, o chefe de Estado assinalou que Portugal apresenta uma identidade nacional como poucos têm em todo o mundo e, em nome dessa identidade nacional, destacou que, “ o Presidente da República aqui está para vos homenagear, para vos testemunhar respeito, para vos agradecer “.
A cerimónia presidida pelo Bispo do Porto, D. António Francisco dos Santos, na qual também participou o Ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Vieira da Silva e autarcas de Castelo de Paiva, Cinfães, Penafiel e Marco de Canaveses, decorreu no monumento construído junto à ponte, entretanto reconstruída, na margem esquerda do rio Douro, realçando-se o momento marcado pelo testemunho de uma adolescente, neta de uma das vítimas, que deixou o Presidente da República comovido, ao ponto de evidenciar que, “ todos nós sentimos uma emoção muito particular ao ouvirmos a Ana Leonor evocar a sua avó Leonor e todas e todos que partiram com ela. Sentimos que era a vida a sobrepor-se à morte, era o futuro a nascer a partir do passado, não esquecendo o passado, mas querendo afirmar-se como futuro".
Numa mensagem que privilegiou os familiares das vítimas, Marcelo Rebelo de Sousa destacou que a jovem não falou das 59 velas, mas das 59 estrelas que estão no firmamento, e frisou que são as velas que evocam o passado e as estrelas que apontam para o futuro, fazendo questão de realçar na sua intervenção que, “ é no passado que todos vamos buscar forças para construir o futuro. Antes de mais, os familiares dos que partiram. No dia seguinte, no mês seguinte, no ano seguinte, recomeçaram a sua caminhada, não esquecendo cada uma e cada um dos familiares, mas inspirados por eles, olhando e construindo o futuro, fazendo vida a partir da morte “.
Na sua intervenção, depois de agradecer a presença do Presidente da República, como um acto de grande expressão afectiva e solidária, que não surpreende, porque a isso já nos habituou, mas que conforta, pela amizade e consideração que revela, Augusto Moreira, presidente da Associação dos Familiares das Vitimas da Tragédia de Entre os Rios, disse acreditar, contudo, que a sua vida não terminou, realçando que, “ continuam vivos, de muitas e diferentes formas, e a marcar a nossa própria vida, hoje. Aquela noite fatídica jamais poderá ser esquecida e aqueles homens e mulheres, que nos deram a vida, que a partilharam connosco, jamais poderão ser esquecidos, porque queremos continuar a amá-los e a agradecer-lhes os seus múltiplos dons “.
E constatando a ausência de quem nunca foi esquecido, o dirigente da AFVTER sublinhou ainda, “ de facto, já não se encontram por cá, já não os tocamos, já não os olhamos nos olhos, já não acariciamos os seus rostos, mas a verdade é que sentimo-los vivos, em nós. Conhecemos a herança da vida que nos deram, sentimos o calor do seu carinho, ouvimos as palavras dóceis com que nos ensinaram os segredos de viver, guardamos no peito a recordação inextinguível do amor com que nos amaram e, desde o momento em que partiram, parece que sempre os ouvimos dizer: continuem todos, a olhar para cima e para a frente, mas não parem, nem baixem os braços. Abracem o futuro e construam novas pontes, pontes inquebráveis de amor, de solidariedade, de ternura e de afectos, pontes que dêem vida e façam viver “.
Mostrando-se honrado e agradecido com a presença amiga do Presidente da República no território paivense, que na sua perspectiva, continua a interpretar com grande sentido de Estado, mestria e sabedoria aquilo que o Povo português espera, ao nível da autenticidade, proximidade, afecto, sabedoria, uma brilhante visão do presente e do futuro e uma excelente relação institucional com o nosso Governo, o presidente da Câmara Municipal de Castelo de Paiva recordou a memória do momento mais trágico e marcante da história recente e que ficará para sempre perpetuado nos anais da história mais triste do município e dos mais terríveis do país, manifestando com um sentimento profundo de tristeza e de dor, a homenagem a todos aqueles que pereceram no trágico acidente de 4 de Março, deixando também um abraço fraterno e solidário a todos os familiares.
O edil Gonçalo Rocha enalteceu o reconhecido testemunho de grande dimensão humana, de afecto e de partilha do Presidente da República, que veio associar-se a esta justa homenagem às vítimas do trágico acidente da ponte, trazendo também uma palavra de conforto e de solidariedade às famílias, sublinhando ainda, com a sua presença, o relevo e a grande importância do papel desenvolvido, no âmbito social, pelo Associação dos Familiares das Vítimas da Tragédia de Entre-os-Rios, aproveitando para manifestar também, o profundo reconhecimento e um grande louvor pela excelência e ousadia do trabalho realizado por esta IPSS, localizada no Couto Mineiro do Pejão.
O louvável exemplo de capacidade de superação, de trabalho, de coragem, de solidariedade e de força dos familiares das vítimas e desta instituição são, na opinião do autarca de Castelo de Paiva, o reflexo dos grandes valores, princípios e capacidades dos paivenses, que mesmo nas grandes dificuldades consegue, com perseverança, alcançar os objectivos e ser grandes no carácter e na dimensão humana, daí considerar a vontade de continuar a sonhar sempre, e
não regatear esforços para caminhar no sentido da confiança e da esperança no futuro, até porque, para o edil, os desafios e as responsabilidades que se colocam no futuro próximo serão enormes e Castelo de Paiva é uma terra que sempre lutou contra muitas adversidades e nunca se deixou, nem deixará, abater, nem resignar!
Gonçalo Rocha disse ainda acreditar, convictamente, nas potencialidades de Castelo de Paiva e da região em que se insere, na sua capacidade empreendedora e solidária, num objectivo de futuro baseado em princípios de sustentabilidade e, nesse âmbito, aproveitou a presença do Presidente da República, para reconhecer e agradecer publicamente a decisão e o compromisso histórico do actual Governo com Castelo de Paiva, nomeadamente com a ligação rodoviária da Variante à EN 222 até ao nó de Canedo da A32, não esquecendo de reivindicar também a urgente necessidade de concretização do IC35 até à A4 em Penafiel, um eixo de ligação prometido e projectado logo após a tragédia do colapso da velha Ponte Hintze Ribeiro, que marcou a região.
Ao lado do autarca paivense, o Presidente da República depositou uma coroa de flores no monumento evocativo da tragédia, localizado em Boure / Sardoura, e cumprimentou todos os familiares das vítimas, seguindo depois para meio do tabuleiro da ponte, onde juntamente com familiares e outras entidades presentes, participou no acto do lançamento ao Rio Douro de 59 flores, tantas quantas foram as vítimas do infausto acontecimento daquela noite tempestuosa de 4 de Março de 2001, numa homenagem que também contemplou a simbólica largada de outros tantos balões brancos.
Já antes, ao som do Hino Nacional tocado e cantado pela Academia de Musica de Castelo de Paiva, o presidente Marcelo Rebelo de Sousa tinha sido recebido na sede da AFVTER em Oliveira do Arda/ Raiva, instalações onde funciona a valência do CAT Crescer a Cores, classificada desde Abril de 2002 como IPSS, e destinada a acolher crianças e jovens em risco, um relevante serviço nos domínios da promoção humana e da protecção social, procurando servir, em permanência, mais de 20 jovens, com idades compreendidas entre os 0 e os 18 anos, sendo que, até ao momento, esta instituição acolheu 68 jovens, tendo permitido que 14 tivessem regressado, já, às suas famílias de origem, 10 obtivessem acolhimento em famílias de afecto, 5 fossem adoptados, 8 integrassem famílias alargadas e, para os restantes, tivessem sido criados projectos de autonomização